Coluna SeguimentosColunas

VARANDAS

Coluna: SEGUIMENTOS - por: Antonio Trotta - Jornalista, Escritor e Poeta - 11 de dezembro de 2024

Toda casa deveria ter uma varanda, um alpendre, onde as pessoas pudessem se assentar e conversar. Onde, no final de tarde ou início da manhã, sentissem o frescor da noite ou do dia que principia. Pudessem expor o corpo ao vento. Sentir a brisa na alma. Soltar os pensamentos. Guardar silêncio. Experimentar aquele momento, muitas vezes corriqueiro, como se fosse único.

A varanda é um lugar comum entre o privado e o púbico. Nela, estamos no particular, no privativo de um lar e, ao mesmo tempo, expostos à rua, aos transeuntes. Ao cumprimento carinhoso de uns, ao desprezo de outros, ao vai e vem de tantos que parecem não saber para onde vão.

Da varanda, vê-se o mundo e se é visto por ele. Da varanda, observam-se gestos, expressões e palavras acontecendo “in loco”, publicamente. A varanda é o limite da residência, do reservado, do cerco das quatro paredes com o mundo exterior. Da varanda, são vistos o passeio, a rua, o mundo. Da varanda, pode-se dar um olhar sobre a cidade.

Na varanda, a vida também acontece. Em prosa, em forma de broncas, em diálogos ou em pensamentos. Na varanda, o corpo toma a dimensão da cadeira, da rede, do banco e das mazelas. Muito ou quase nada pode acontecer na varanda: o diálogo, o silêncio, a raiva, o perdão, a espera, a hesitação, o alvoroço, a calmaria, o namoro, a despedida, o dia, as madrugadas. A presença ou as lembranças podem fazer parte da varanda.

Tenho experimentado a varanda em meus finais de tarde. O horário de verão permite que o dia se torne mais longo e as varandas mais aconchegantes e confortáveis. Sozinho ou na presença de alguém da família, desfruto o que a varanda me pode ofertar. Observo a vida que circula na rua, nos passeios, nos vizinhos e dentro de mim.

Certas vidas parecem ser programadas, outras acontecem do nada, do inesperado. A noite chega; com ela, o movimento na rua diminui e o silêncio ganha espaço nos paralelepípedos. Para onde foi todo mundo que, até pouco tempo, andavam como loucos, apressados para chegar? Quem sabe, estão eles sentados em suas varandas, vendo a vida passar, recuperando o dia que, sorrateiramente, se desmancha. Talvez, curtindo o seu canto, a sua família e a felicidade de poder sentar, simplesmente e preguiçosamente, na varanda.

Toda varanda deveria ter alguém que pudesse, ao olhar o mundo a sua frente, se sentir em casa.

 

 

Antonio Trotta – Jornalista, escritor e poeta

4 Comentários

  1. Toda varanda deveria ter uma pessoa somada a outras pessoas para observar o tempo ,vento e temporal, sol e dia claro de conversa…Toda varanda é uma janela para fora ,para o horizonte a vida que alvora.

  2. Que bonito texto, Trotta! Muito sugestivo! Adoro observar as varandas por aí. Elas são carregadas de acenos, despedidas e aconchego.Parabéns

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Artigos relacionados

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo