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Treinar pra valer

Coluna: SEGUIMENTOS - por: Antonio Trotta - Jornalista, Escritor e Poeta - 28 de maio de 2025

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Passei grande parte da minha infância num dos bairros mais antigos de Itajubá, o Porto Velho. Mudamos para lá em 1970, logo no final da Copa do Mundo, quando a seleção brasileira se tornou tri-campeã. Era um bairro pequeno, delineado pelo rio Sapucaí, a fábrica de doces Vera Cruz, as ruas que dão acesso ao Centro e um matagal que atingia os fundos do Colégio Sagrado Coração de Jesus.

Logo que cheguei, fiz amigos, de escola, de bola e de sair aos domingos. Estudava na Escola Estadual Theodomiro Santiago; depois, fui para a Escola Estadual João XXIII. No bairro, tinha um campo de futebol. Chegando da escola, almoçava, fazia alguma lição de casa e, logo, corria até ao campo para jogar bola até o final da tarde. Lá, eu corria muito, mas jogava pouco. Jogava na frente ou no lado direito do campo. Tinha os meus ídolos, como todo garoto da minha época. Eu era o “Tostão”, camisa 9 do Brasil; às vezes, era o “Jairzinho”, camisa 7. Como adorava o Rivelino, camisa 11, comecei a desenvolver o meu chute de esquerda. Eu era destro; mas o Rivelino fazia gols maravilhosos com a outra perna.

No campo, tínhamos bons jogadores e bons goleiros. Não era jogo o que fazíamos; chamávamos de treinos, e treinávamos o dia todo e, praticamente, todos os dias.

Sempre alguém aparecia com uma bola no “campão”. Dividíamos os jogadores no par ou ímpar. Juiz? Não tinha. Era no berro, na falta grave, ou na apelação da maioria. Quando alguém se metia a apitar o treino, às vezes dava certo; outras, confusão.

Algumas vezes, depois dos treinos, íamos até a um bananal nos fundos do campo. Eram as melhores e maiores bananas que já comi em toda a minha vida. Apanhava no pé. O único problema era quando o dono das bananas chegava; tínhamos que correr apavorados e atravessar a cerca de arame farpado, antes que os cachorros nos mordessem.

Depois disso, voltávamos ao campão e reiniciávamos a partida. Jogávamos até o sol, a grande bola, murchar por detrás das montanhas. Íamos para casa cansados, mas satisfeitos, pois sabíamos que estávamos treinando para, um dia, “vestir a camisa” e, realmente, jogar o grande jogo da vida.

 

Antonio Trotta – Jornalista, escritor e poeta

Foto: ilustrativa FreePik

4 Comentários

  1. Sonhos que vamos alimentando na infância para virar realidade no futuro entre Foco e Determinação…sempre com a alegria de ter vivido os melhores dias da vida… e ao olharmos para trás através das lembranças temos a CERTEZA que tudo valeu a pena…assim vamos criando nossas memórias afetivas…

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