Cultura e Lazer

ALMEJE OS JARDINS

Coluna: SEGUIMENTOS - por: Antonio Trotta - Jornalista, Escritor e Poeta - 23 de outubro de 2024

Não. Não quero rosas, quero jardins! Quero apreciar toda a sua magnitude. Vivenciar nas roseiras o seu ciclo vital, ainda em botão, seu desabrochar até chegar à plenitude. Poder, sem nenhum “poder”, observar as pétalas, agora tombadas sobre a terra que lhe deu vida, cheiro, cor e beleza. Não. Não quero abreviar seu ciclo, mas prolongar, ao máximo, sua existência, lá onde a vida foi soprada.

Não quero as rosas ornamentando o meu mundo, mas o mundo. Não quero tê-las cativas em minhas mãos, por mais belas que possam ser. Nos jardins elas são livres, pertencem ao vento, aos passarinhos, à noite, ao luar, aos apaixonados. Flores que brotam da terra, enraizadas na sua própria sorte e destino. São belas. São flores. São elas.

Almeje jardins! Ouse plantar e não colhê-las. Que o desejo do ser seja maior que o simples prazer do ter. Só os jardins possuem a beleza das flores. Um bouquet nos pertence, não a sua plenitude, a sua grandeza. Nos jardins, a vida pulsa e se desenvolve suntuosa, intensa. É uma beleza em plenitude. Cultive jardins e você terá verdadeiramente as flores e tudo que dela exala. Ao plantar rosa, cultivará satisfação e regará sonhos. Um jardim, por menor que seja, contém mais que uma semente. E, nele, a vida acontece, ao vivo e colorida, naturalmente.

Que os namorados não se prendam ao cheiro do botão ofertado, mas aos jardins. Que, ao cuidarem da terra, cuidem da convivência entre eles; ao plantarem sementes, invistam na vida; ao regarem os campos, acreditem no amor; ao desabrochar de uma rosa, construam relações duradoras; ao reconhecerem a beleza e a plenitude dos jardins, alimentem a alma com poesia e dedicação.

Na escuridão da noite, mire as estrelas. Na dificuldade da vida, cultive jardins. Plante. Regue. Cuide. Aproxime-se do belo e da beleza. A vida é natural; os jardins fazem parte da natureza. Não se preocupe com os espinhos; mesmo as flores precisam de proteção. Aprender a conviver com os obstáculos é uma luta diária das plantas. Aprenda com elas os segredos da existência: apesar de tudo, ainda são capazes de exalar perfume.

Não se cultivam rosas pelos espinhos, mas pelas flores, pela beleza e pela necessidade do ajardinamento. A vida não é um deserto. Eles existem e estão por toda parte. É preciso avançar no cultivo de jardins. Regar a terra, adubar o chão, criar novas perspectivas, preparar o coração. Há momentos em que a vida é um jardim em flor. Há situações em que é preciso botar as mãos, remexer o chão e trabalhar a terra de corpo e alma. Só assim podemos reconhecer o novo, o que há de florir na próxima primavera. Ao ganhar uma rosa, percebe-se a sua beleza. Ao cultivar um jardim, dá-se vida ao belo. E belo é um jardim em flores.

Não quero rosas, almejo jardins!

 

Antonio Trotta – Jornalista

 

Fotos: https://www.musees.qc.ca

7 Comentários

  1. Belíssimo! Braaaavoooooo Trotta! Cada inspiração que você nos entrega, nossa alma é elevada para se conectar à dimensão da sua criação! Saborear as palavras que se entrelaçam na formação de cada frase revelando a essência da sua alma nas entrelinhas, é uma nutrição de Luz! Gratidão Vitalícia

  2. Linnnnndo demais!!!! Eu também opto pelos jardins em vez de rosas cortadas. O seu texto, poético, é um convite à valorização do amor verdadeiro, genuíno, que cresce com raizes profundas.

    Melhor aceitar a beleza de vários “jardins” do que uma rosa cortada ( mesmo sendo bela ) que não vai se desenvolver fora do solo. Desse jeitinho são as relações, você tem que regar, cultivar com calma e perseverança, ao longo da vida.
    Sua fã de carteirinha

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