Cultura e Lazer

ESPECIAL – A SÉRIE QUE VI – “Modern Love” – parte 3

Contrastando com o episódio sete, não há lugar para a ternura no episódio quatro. Em “Ralando para não deixar a peteca cair” Sarah e Dennis se perguntam sobre o que os mantém unidos. Ela questiona um futuro após a saída dos filhos, e ouve de Dennis uma resposta evasiva e esdrúxula. Mas, a dúvida é pertinente. A pretensão de uma vida a dois esbarra no personalismo de Dennis, e os esforços de Sarah para comprometê-lo com a família descambam para a revanche, naquele tão frequente quanto dispensável tipo de contabilidade “se você fez tanto por você mesmo, agora terá que fazer tanto quanto por mim”. Tentando uma experiência comum, buscam no tênis um espaço a ser partilhado. Mas, também aí (e não poderia ser diferente) Dennis, em seu individualismo, despreza as regras do jogo e propõe regras próprias. A partir de um ressentido desabafo sobre a falta de espaço que lhe foi imposta, Sarah determina um novo rumo para a vida a dois. Subentende-se, que a DR tenha dado um novo fôlego à terapia. Porém, a aqueles que exercem a psicanálise, que recorrem a ela, ou que apostam alto nas DRs, a facilidade com que Dennis renuncia ao seu sintoma surpreenderá!

Já o oitavo e último episódio, “A corrida fica mais gostosa na volta final”, tem um sabor complexo, um pouco doce, um pouco amargo. Margot e Ken se encontram em uma corrida a que ele se refere como “olimpíadas geriátricas”. Por iniciativa dela, com a veemência de quem pode e deve dispensar os jogos de sedução, tem início um amor “igual ao dos jovens, porém diferente”. Igual, pelo que se sente e se partilha; diferente, por se saber que, a essa altura da vida, sobrevive-se às eventuais venturas e desventuras de um relacionamento. A narrativa não repete a fórmula “enfim, conheceram a felicidade”; pelo contrário, há a afirmativa de que não se pode tomar qualquer volta como a última, enquanto se está vivo. E é justamente no funeral de Ken que Margot nos brinda com uma realista reflexão sobre perdas e ganhos nos amores tardios.

Talvez como última homenagem, Margot retorna à casa em uma corrida. Em seu trajeto, somos levados a pensar sobre os amores e histórias que uma cidade guarda, sobre seus personagens anônimos que se cruzam, os que vemos, os que não vemos e os que somos.

(Eder Schmidt) 
@drederschmidtpsiq

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