Cultura e Lazer

ESPECIAL – A SÉRIE QUE VI

MINDHUNTER - Netflix - parte 2 - conclusão

A aula sobre perversões continua

O universo com que Ford e Tench se envolveram passa a operar sobre eles. Tench negligencia sua participação junto à família, que vive um gravíssimo problema. Ford ignora as expectativas da namorada, repetindo-se em um discurso autocentrado. Fascinado, não percebe que as mentes a serem caçadas passaram a dominá-lo, transformando-se em obsessão. Após um reencontro aterrorizante com Kemper, experimenta um ataque de pânico, sendo temporariamente afastado.

A investigação central na 2a temporada é sobre os assassinatos de crianças negras em Atlanta, entre 1979 e 1981, paralela a excelentes entrevistas e à proposta de uma nova investigação. O espectador terá a associação do funcionário da ADT Services (mostrado apenas em flashes) ao BTK – Bind, Torture & Kill – hoje, em prisão perpétua, que realmente amarrou, torturou e assassinou dez pessoas, entre 1974 e 1991.

Porém, o controle sádico, elemento central na perversão, aparece também na sujeição de cúmplices. Elmer Henley afirma ter agido sob influência de Dean Corll, o “Candy Man” (morto pelo próprio Henley) em assassinatos em Houston, entre 1972 e 1973. Tex Watson, membro da “Família Manson” que cometeu nove assassinatos em julho e agosto de 1969, se disse dominado por Charles Manson (outra brilhante entrevista da série). Controlar, mas fazendo saber quem está no controle. Ao perceber que a polícia não conseguiria encontrá-lo, Ed Kemper se entregou e confessou crimes e métodos. Sem que a série relate, ao ouvir que, trinta anos após assassinar a família Otero o público o teria esquecido, BTK, enviou à polícia um disquete gravado no seu próprio computador que, rastreado, levou à sua prisão.

Aliás, quanto a BTK, um caso a ser desenvolvido na 3ª temporada, o público é a vítima: a Netflix suspendeu os contratos relacionados à série, sendo improvável que haja uma 3ª temporada. Assim, perdemos a série que, em uma poderosa lente de aumento, mostra a colagem de violência, narcisismo, dominação e submissão que tantas relações repetem, e que resultam em vários níveis de tragédia.

 

Eder Schmidt – Psiquiatra e psicanalista

@drederschmidtpsiq

 

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