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CRÔNICA: LEMBRA DA TVE CANAL 7?

Jornalista relembra canal de televisão que fez fama em Caxambu nos anos de 1990

Era como se quase a cidade inteira parasse. Estava na hora do jornal da TVE. Na verdade, quem não parava, era por que assistia enquanto trabalhava ou almoçava em casa ou aqueles que tinham a certeza de que iriam acompanhar a reprise no fim da tarde.

Toda terça e às 11:30 E 18:30 essa era rotina em Caxambu. A cidade tinha sua própria emissora de TV, uma concessão educativa que operava no canal 7. O alcance era limitado. A cidade toda e com sinal em Baependi e em algumas áreas de Cruzília.

Mas o foco era Caxambu. Da política a cultura. Do esporte a saúde, nada escapava da intrépida equipe. Que na verdade eram só duas pessoas: este jornalista que vos escreve e o cinegrafista Gilberto Alves. Pelo menos na maior parte do tempo em que funcionou ativamente, éramos nós a frente de tudo.

A emissora começou pelas mãos do empresário e radiodifusor Eugênio Carneiro Rodrigues, de Lambari, diretor da rádio Transmineral. Além da concessão de FM daquela cidade, ele também tinha conquistado um canal de TV Educativa para Lambari e outro para Caxambu.

A princípio Rodrigues procurou pelo também empresário e radiodifusor Beto Magalhães da rádio Circuito das Águas FM 90,3 de Caxambu e lhe propôs parceria no canal de TV.

Neste início, a emissora contou com apoio e colaboração, entre outros, do advogado Ovídio Pires, do Antônio José da TAS Vídeo, do radialista Farid Curi e logo de cara deste jornalista. Todos dirigidos pelo Beto da rádio.

Foi produzido um jornal, o SEMANAL, apresentado pelo Farid. Entre outros programas, como um de entrevistas.

Foram poucos meses assim. Se não me falha a memória, algo entre maio e novembro de 1991.

É deste período o famoso vídeo que circula atualmente em rede social, produzido para celebrar os 90 anos de Caxambu. Neste momento, mais para o segundo semestre de 1991, a TVE funcionava numa sala no edifício Audrey e era coordenada apenas pelo Beto, que se encarregava de filmar e editar. E eu, como repórter e apresentador.

Algum tempo depois e por razões empresariais, financeiras e políticas, a emissora passou para o controle de outros empresários, entre os quais o Pepe, do Palace Hotel e o ex-prefeito Marcus Gadben.

A partir daí, 1992, a TV E teve em seu quadro o publicitário e ex-vereador José Luiz Nogueira como diretor. E pouco menos de 2 anos depois, ficou apenas eu e o Gilberto Alves.

Outros colaboradores passaram por lá, entre auxiliares, apresentadores convidados, entrevistadores eventuais, mas a base estava nesta dupla. E fizemos história.

Além dos citados telejornais as terças e sextas, (numa época era o Minasul Notícias, depois jornal da TVE) produzíamos um programa de vídeo clipes com sucessos da época. Tinha mesa redonda de esportes. Organizamos com apoio da Liga Caxambuense de Futebol e com coordenação do Beto Meireles e outros uma taça de futsal, sucesso absoluto.

A gente buscava estar em tudo o que fosse fato e pudesse virar notícia. Não era fácil. Equipamentos limitados; remuneração baixa; poucos patrocínios e um mundo completamente diferente do de hoje. Não existiam internet e nem celular. Muito menos computadores. Tudo era na base do telefone, da conversa cara a cara e muitas laudas numa pequena máquina de escrever e fitas e mais fitas de VHS em aparelhos de vídeo cassete para editar e montar.

Mas tínhamos criatividade e vontade para aprender e para realizar.

Me lembro que numa certa época, véspera de alguma eleição para Deputado, o então candidato Álvaro Pereira, ex repórter da Rede Globo, visitou a cidade. E foi até a nossa sede, que durante estes anos passou funcionar na parte de cima do prédio onde hoje é a Drogaria Americana, na rua Costa Guedes.

O jornalista global, famoso por matérias no mundo todo, nos deu muitas dicas e garantiu que estávamos no caminho certo e ficou espantado em saber que apenas 2 funcionários colocavam aquilo tudo para andar e com resultados expressivos.

E foram muitos outros entrevistados: Dercy Gonçalves, Chico Anysio, Paulo Ricardo, Erasmo Carlos, Itamar Franco, Newton Cardoso, quase que todo o elenco da então famosa Escolinha do Professor Raimundo, Moacyr Franco, e outros que não me vem à memória. Já são mais de 25 anos né meus amigos e amigas!

Vale citar que quase todos estes artistas vinham a Caxambu pelas mãos do empresário Toninho Chaffi Nasser, numa época a qual a cidade era, digamos, mais efervescente em cultura e economia.

Também frequentaram os programas e o estúdio simples da TVE de Caxambu os irmãos Curi. Além de Farid que participou do começo da emissora, entrevistei várias vezes Ivon Curi e Alberto Curi. Uma escola viva de comunicação.

Da política, os grandes nomes que lideraram o cenário na cidade nos anos de 1990, passavam pela TVE para esclarecer fatos e dar transparência a muitos atos. Ou nem tanto…

Entre eles, Chico Castilho, Henry Zhouri, polêmico vereador com o qual eu tive discussões homéricas, mas que acabaram bem; Margarida Dantas, Eduardo Almeida, os ex prefeitos Rossini Jaime, Paulo César Levenhagem, Isaac Rosental e Marcus Gadben, entre outros.

Com certeza eu tenho mais fatos, alguns de bastidores que talvez nem devam ser contados, especialmente da política local.

Voltarei com outras histórias. Trajetória que para mim se encerrou no início do ano 2000, quando sai da emissora. A empresa continuou por mais alguns anos. Outras pessoas deram continuidade com outros programas e atrações. Com o passar do tempo, com a falta de investimentos e com a mudança de paradigma na comunicação, a emissora paralisou suas atividades locais e seguiu apenas retransmitindo o sinal da rede Minas.

Hoje, sei que pertence a outro grupo empresarial e só retransmite um sinal de rede, estando há anos sem programação local.

O mundo mudou. Eu mudei. De lá, fui para outros programas de TV, voltei ao rádio em vários momentos, assessorias, jornais impressos, sites, outras emissoras e TV de maior porte. Uma carreira longa e ainda viva, graças a Deus, a persistência pessoal e ao apoio da família e amigos.

Mas ficam as lembranças. De um tempo onde a gente tinha que fazer um grande esforço para colocar no ar uma simples imagem que hoje é gerada pelo celular. E fica a saudade de uma época na qual Caxambu se ligava na TVE, pra saber o que acontecia em sua cidade. Até o próximo programa!

Texto: Sérgio Monteiro – jornalista

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