ACADEMIA CAXAMBUENSE DE LETRASCultura e Lazer

COLUNA MUSICAL

Por: Aquiles Rique Reis - vocalista do MPB4

A plenitude do choro

Pirei no som do Chorando as Pitangas. Desde o título do grupo até os arranjos, os jovens chorões têm a manha do gênero no qual Jacó do Bandolim e Pixinguinha são estrelas. O repertório e o jeito de tocar vêm com a marca de quem tem jeito pra coisa. Logo no primeiro acorde, me fizeram levantar da cadeira! Poxa! Como é bom encontrar quem faça do choro profissão… E que choro, pegada têm os cinco do Chorando as Pitangas… Meu Deus, o que é aquilo?

Ainda que eu não os conheça pessoalmente, senti uma generosidade que irradia uma alegria contagiante, vinda do fundo da alma chorona. Não sei se eles se dedicam à música, com o rigor dos profissionais. Mas estou certo de que eles são amadores… sim, “amadores”, no sentido de tanto amar, de tanto amor. Se assim são, é porque possuem a alegria do choro – e a música vibra intensa, admirável.

Olha só: todo este palavrório foi para extravasar minha empolgação. Caramba! Dá gosto ouvir a primeira faixa de um álbum que esbanja sinceridade. Ralentandos, affretandos, pausas, levadas em duos, compassos com ligeirezas avassaladoras, tudo do choro esta ali, ao alcance do bom-gosto.

`bora lá: o CD Terceira Dose (independente) é o terceiro disco do Chorando as Pitangas. Com dez composições autorais e inéditas, o quinteto tem o choro como destino na vida – bem, pelo menos foi assim que eu os imaginei.

Uma pausinha pra respirar… vou ao release e lá transcrevo algumas participações especiais: “Chico Pinheiro fez um improviso de tirar o fôlego em “Choro for Mark”, do violonista do grupo, Gian Correa. E o grupo Barbatuques criou uma sonoridade completamente rica, criativa e envolvente para dois temas, “Choro pra Luisa”, de Renato Epstein, integrante do Barbatuques, e “Barbatucando”, tema alegre e divertido que Vitor Lopes, o harmonicista do regional, compôs em homenagem ao grupo”.

E assim, com o respeito que merecem, eu saúdo os cinco chorões corajosos do Chorando as Pitangas – sim, corajosos e criativos são os instrumentistas brasileiros: salve o bandolim e o sete cordas de Gian Correa, seus sons são o coração de um bom choro! Salve Ildo Silva e o senso rítmico de seu cavaquinho! Salve Milton Mori e o fraseado esperto do bandolim! Salve Roberta Valente, ela que tem o pulso forte no pandeiro! Salve Vitor Lopes e sua harmônica de boca, brilhando em improvisos inusuais, e solista em linhas melódicas dos choros: e é aí que está o barato: usualmente, as funções de “mostrar” a música, solando suas melodias, os arranjos costumam delegá-las ao bandolim, por exemplo.

E é assim, desde o início com “Degringolado” (Vitor Lopes), até o fim, com “Barbatucando (Vitor Lopes), que se pode provar a plenitude do chorinho – ali está o espírito da música popular brasileira.

 

  1. Gravação ao vivo: Beto Mendonça e Gustavo Valle; mixagem e masterização: Gian Correa; fotos: Stela Handa; design gráfico: Lula Carneiro; projeto financiado pelo ProAc, gerido por Maysa Lepique e Carrossel Voador.

Sobre o Colunista: 

Aquiles Rique Reis, niteroiense, logo se dispôs à vida. No MPB4 desde 1965, foi como se tivesse nascido para sempre cantar e muito sentir as dores do mundo, que são também suas. Hoje, ele canta, e há quinze escreve sobre música, com isso se encontra e vive. 

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