Monalise vai à luta
Faz tempo que conheci Monalise. Ela me foi apresentada pela minha filha Leticia, as duas adolescentes. Desde então, eu a vi algumas poucas vezes, sempre em shows do MPB4. Foi uma surpresa receber uma mensagem na qual ela dava conta de que gravara o seu primeiro CD, com músicas autorais e com parceiros.
No corpo do e-mail, havia uma pergunta: “Você se lembra de mim, Aquiles, eu sou amiga da Leticia?”. “Claro que me lembro de você, Monalise!”, asseverei. De fato, eu inclusive já sabia da sua gravação, através do meu companheiro/irmão Miltinho, ele que dera a ela uma bela e inédita música para gravar: “Quando Alguém Ama Demais”, em parceria com Abel Silva. A intro, marcada por intervenções do piano e do bandolim, leva à bela melodia, o que dá a Monalise a chance de se valer de seus agudos suaves para cantar e emocionar.
Mas vejam bem, queridos leitores e queridas leitoras, não esperem de mim um comentário parecido com o de quem escreve com a faca entre os dentes. Escreverei com a emoção na ponta dos dedos e com o fundo do coração palpitando: a emoção está sempre presente, viva.
Pois Monalise está lançando Bom motivo (independente), seu primeiro trabalho. Dele esmiucei cada uma das onze faixas. Ora bolas, nelas eu não encontrei a menina que costumava assistir apresentações do MPB4, mas sim, claro, uma jovem mulher madura, que canta tão bem quanto uma veterana das boas.
“Estranho” (Monalise e Adriano Brandini) abre a tampa. O arranjo tem introdução com destaque para o violino. Monalise dá pinta de que a melhor região para cantar é na parte intermediária das teclas do piano. A melodia tem momentos de rara beleza. E Monalise entrou firme no mundo da música!
“Frescor” é apenas dela. Uma linda canção! Com levada lenta, nela se sente uma delicadeza que certamente foi buscada pela autora ao compô-la.
E assim, Monalise encorpou a voz, emocionou com versos bem divididos e com eles definiu o suingue das palavras escolhidas. Graças à afinação decisiva, virtude que junto com a escolha de um bom repertório é sempre item importante para ter-se um bom CD, ela não titubeou – e eis que a música ganhou uma ótima cantora!
Outro momento admirável do álbum é “O Zé e a Flor” (Alexandre Lemos), quando a introdução leva a um contundente hino em respeito à diversidade. Os versos poéticos de rara sensibilidade alertam para uma luta que é de todos nós.
Canta, Monalise!
Instrumentistas: Carlos Chaves (direção musical e violão de sete cordas), Jorge Helder (baixo), Dirceu Leite (flautas e flauta em sol), Luis Barcelos (bandolim), Marcos Feijão (bateria), Ayran Nicodemo (violino), Antonio Guerra (piano), Luciana Coló (vocais), Diogo Sili (viola e violão de seis cordas), Laila Aurore (cavaco), Ernani Cal (percussões), Leo Mucuri (percussões), Samara Líbano (violão de sete cordas), Raphaela Yves (surdos, tamborim e coro), Luh Ribeiro (repique, chocalho, tamborim e coro), Geiza Carvalho e Clarice Maciel (caixa, tamborim, agogô e coro).
Sobre o Colunista:
Aquiles Rique Reis, niteroiense, logo se dispôs à vida. No MPB4 desde 1965, foi como se tivesse nascido para sempre cantar e muito sentir as dores do mundo, que são também suas. Hoje, ele canta, e há quinze escreve sobre música, com isso se encontra e vive.