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Por: Aquiles Rique Reis - vocalista do MPB4

Uma beleza contagiante

Antes de iniciar meu comentário, acho importante contextualizar o trabalho que tenho na mão. Vamos lá: não raro, sabemos de álbuns, instrumentais ou não, que muito embora gravados anos atrás só agora conseguem ser lançados. O resultado dessa sentença é a condenação ao anonimato e a discos guardados nas gavetas do esquecimento.

Bem, trataremos hoje do álbum Unir – Sérgio Farias Trio, integrado por Sérgio, pelo baixista Ricardo Feijão e pelo percussionista Julio Gonçalves. Gravado na França, com recursos próprios do compositor, arranjador, violonista e produtor musical Sérgio Faria em 2012 (eu disse 2012!), só hoje o álbum com repertório autoral vem à tona.

Além dos mundos musicais potiguar, carioca e paulistano, são muitos mais os que admiram o talento dele. De fato, ele é um grande músico. Suas harmonias e melodias trazem impressas a sua alma. Riquezas surpreendentes transitam por caminhos inéditos, trilhados sempre com requintada sabedoria.

Das doze faixas, dez são de autoria exclusiva de Sérgio e duas com parceiros: “Musicalidade” (com a artista Do Montebello) e “Folha Seca” (com o poeta Jorge Fernandes, um dos precursores da poesia moderna no Brasil). Como convidados, a cantora Do Montebello e o saxofonista Jean Charles Richard. Unir é o terceiro álbum de Sérgio Farias.

Dito isso, vamos aos sons: ouvi-los é como maravilhar os ouvidos com canções que dão gosto de ouvir. Logo de cara, vem “Unir”, música que empresta o título ao CD e cuja melodia é de arrepiar os cabelos. O violão soa bonito. Compassos com linhas melódicas profundas e em profusão dão pinta do que virá na sequência. Logo se ouve o baixo a transitar delicado por entre as notas do violão. A beleza é contagiante. O violão de Farias revela ter qualidade similar à dos grandes mestres do instrumento. Sem trastear, as cordas sentem-se livres para sentir a música. Chega o sax de Jean Charles Richa; vem devagarinho, dando apoio e sendo apoiado pelo violão e pelo baixo… meu Deus do céu, o que é aquilo?

Mas olha só, é inútil negar: harmonias e melodias lembram os melhores momentos das músicas de Guinga e Toninho Horta. O violão de Sérgio também traz à lembrança os dois mestres. Considero não haver reverência maior ao talento dele do que essas parecenças.

Mais para frente tem “Cantiga Praieira”. O violão soa. A suavidade de um mar sem tempestade se faz ouvir. O violão, a percussão e o baixo trazem o samba. Poderoso que só ele, o sax chega e, recém-chegado, já assume a janelinha do avião musical, e improvisa… Caramba, como o seu improviso importa, meu Deus! Violão, baixo e percussão conduzem a cantiga pela beira do mar. Segue o improviso arrasador do sax. Logo o violão ampara o baixo, que improvisa em grandiosa amostra de seu som intenso.

E assim o CD de Sérgio Farias se cria e ganha asas e voa. Vai longe o Serginho! Voo e vou com ele, ouvindo a sua música contagiante, sentindo na alma que a outra alma é música

Sobre o Colunista: 

Aquiles Rique Reis, niteroiense, logo se dispôs à vida. No MPB4 desde 1965, foi como se tivesse nascido para sempre cantar e muito sentir as dores do mundo, que são também suas. Hoje, ele canta, e há quinze escreve sobre música, com isso se encontra e vive. 

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