ACADEMIA CAXAMBUENSE DE LETRASCultura e Lazer

ACADEMIA CAXAMBUENSE DE LETRAS

Carlos Eduardo Novaes

A coluna de hoje é com Carlos Eduardo Novaes

ROUPAS, PARA QUE TE QUERO! 

No momento em que peguei a camisa no cabide do armário percebi que ela estava puída no colarinho. Aquela visão deixou-me com os olhos marejados.

Não sei você, mas eu crio uma afeição por algumas roupas que me desfazer delas é como romper um caso de amor.

Senti que não havia mais salvação para minha querida camisa puída. Ao longo de nossa convivência, por mais de 20 anos, tive que submete-la a várias “cirurgias” para tê-la sobre meu tórax. Cortei-lhe as mangas compridas depois de um rasgão na altura do antebraço, troquei os botões e cheguei a substituir o colarinho puído a primeira vez, no “hospital” de Dona Laura, minha costureira, que já sabia quando eu entrava em sua loja:
– É ela?

Agora não havia mais como salva-la, estava ferida de morte. Peguei-a no braço, estendi na cama e fiquei a contempla-la lembrando de quando nos conhecemos em uma loja de shopping em Ribeirão Preto nos anos 90. Foi amor à primeira vista. Tive a nítida impressão de que ao me ver ela se mexeu na vitrine. Avancei por dentro da loja e comprei-a sem perguntar pelo preço. A confirmação de que havíamos sido feitos um para o outro veio quando o vendedor disse que TINHA o meu tamanho!

Sim, saibam que nem sempre minha paixão foi correspondida porque a loja só dispunha de camisa tamanho “P”! Já fui vítima de um estranho caso em uma sapataria de Copacabana. Interessei-me por um sapato na vitrine, entrei, dei o número do meu pé e sentei-me esperando a volta do vendedor. Minha expectativa assemelhava-se a de sair pela primeira vez com uma mulher, aguardando no carro sua aparição na portaria do prédio. O vendedor reapareceu equilibrando uma pilha de caixas escorada no queixo e se explicando:
– Aquele modelo não temos, senhor, mas…
Nem deixei concluir a frase:
– Nem precisa abrir as caixas. – e falei malcriado – Eu quero aquele!
– Infelizmente o modelo é do mostruário da casa. Só temos aquele pé!
Respondi na maior irritação:
– E quem comprou o outro? Foi o Saci?

Academia Caxambuense de Letras – novembro de 2021

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