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TEMPO DE FÉRIAS

Coluna: SEGUIMENTOS - por: Antonio Trotta - Jornalista, Escritor e Poeta - 8 de janeiro de 2025

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As férias de janeiro eram sagradas. Na maioria das vezes, passava muitas delas em Caxambu, na casa de meus avós maternos. Eram férias longas, esticadas pelo tempo e pelo prazer de encontrar boa parte da família. Além dos adultos, convivíamos primos e primas que estavam na mesma elasticidade das idades. Era um grupo enorme e com muita energia para gastar.

Adorávamos ficar conversando na varanda da casa. Ali o tempo passava a galope e íamos na garupa, apreciando as paisagens e as imagens, hoje gravadas na memória. As discussões corriam soltas. Trocávamos experiências, aprendíamos com as diferenças e todas histórias tinham a sua graça ou eram engraçadas. Éramos crianças, adolescentes e jovens repartindo a vida em fatias enormes. Cada momento era delicioso e vinha recheado de carinho mútuo e coberto de muito humor e diversão.

Ali ficávamos até quando alguém vindo da cozinha avisava: “o café está na mesa”. Disputávamos velocidade e espaço, pois quem chegava na frente escolhia o lugar. Sentávamos; sempre havia lugar para todos. Cadeiras e banquinhos apareciam de todos os cômodos para acomodar todo mundo. Os adultos, muitas vezes, nos acompanhavam e partilhávamos os quitutes e as experiências. Meu avô tinha o seu lugar à mesa e minha avó comandava os bolinhos e as quitandas, o que era sólido ou líquido sobre a mesa. Tínhamos uma mesa farta e um farto prazer de estar ali, alimentando o corpo e a alma; provando as delícias feitas pelas mãos mágicas de minha avó.

Bastava uma risada para todos se encherem de curiosidade e compartilhar do engraçado. Muitas “bobeiras” de adolescentes tomavam corpo e sobreviviam a várias refeições. Davam-se asas para a imaginação e o que parecia nada ganhava vida e nomes e gerava histórias, certezas e dúvidas. Era a ponta do novelo encontrada. E a linha da criatividade se desenrolava com ligeireza e satisfação.

Nada escapava. Todos se incluíam em volta da mesa. Evitavam-se os excessos para que a “brincadeira” pudesse continuar, assim como a vida, assim como os dias. E, assim, crescíamos cheios de alegrias, relacionando-nos em harmonia com idades e pessoas diferentes, fazendo o comum se tornar diferente e atrativo.

Da mesa para a varanda era um pulo. Defendiam-se lugares e aconchegavam-se todos, um a um, pouco a pouco. A vida continuava, do jeito menino, do jeito criança, do jeito gostoso. Da varanda, olhávamos as ruas e víamos o mundo. O mesmo mundo que tínhamos dentro de nós quando as férias chegavam.

 

Antonio Trotta – Jornalista, escritor e poeta

4 Comentários

  1. Ah que coisa mais linda… Um texto nostálgico e acolhedor, que transmite a essência das férias em família… uma mistura de tempo dilatado, convivência calorosa e a alegria compartilhada de infâncias repletas de energia e descobertas.
    Lindo lindo lindo…Parabéns

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