O GRANDE VAZIO (OU TRIBUTO À INÉRCIA)
Coluna: SEGUIMENTOS - por: Antonio Trotta - Jornalista, Escritor e Poeta - 20 de novembro de 2024
Quem nunca sentiu um grande vazio,
sem ter nada para dizer e nada para pensar,
destituído do mais elementar raciocínio ou
do desejo de se manifestar?
Há dias em que a vida é apenas isto, um vácuo, nem mais, nem menos. Tudo ao redor parece sem respostas e sem questionamentos. Há dias em que a gente não se sente ninguém. O mínimo de esforço desponta como o máximo de sacrifício e transpassa inerme todas as nossas forças até a exaustão. É como se, num único cansaço, o nosso vigor, esgotado totalmente, despejasse, já com a respiração ofegante, a última gota de suor e de sangue. Assim, como num gesto derradeiro, despovoado de si mesmo, se desejasse consagrar os próximos minutos e momentos apenas ao silêncio, ao sossego e à serenidade.
Relegado todo esforço de raciocínio, de movimento físico ou outra atividade absorvente de energia, o único e prazeroso ânimo é prestar um tributo à inércia. Deitar em uma rede e, em profundo e tranquilo repouso, deixar chegar calmamente, já quase num suspiro, o ócio desejado, a folga merecida, a pachorra mental e física cobiçada; enfim, o alívio de quem busca, num estado de quem se silencia, apenas a “paz”.
Mas, antes do repouso ambicionado, uma última batalha ainda se torna necessária e imprescindível para que a luta prestimosa não seja inútil. Há sempre, para aqueles desprovidos que nada mais buscam que o silêncio, dois pontos vitais para viver e sentir, verdadeiramente, o grande vazio: além da ausência de ruídos, ir em busca do mais importante e fundamental para a recomposição humana – o silenciar-se. Não basta apenas haver silêncio em torno; é preciso possuí-lo e guardá-lo interiormente, a sete chaves, num estado de quem se cala, simplesmente. E só a partir daí, é que podemos, confortavelmente, afrouxar a roupa, relaxar o corpo e negligenciar a alma e a mente.
Tudo aquilo que parecia intolerável, insustentável, insuportável, enfadonho às nossas forças sofre, agora, a permuta do ‘vazio exaustivo’ para o ‘vazio satisfatório’. É o preenchimento do vazio que nada contém para um vazio que começa a ser preenchido em tudo que sua capacidade comporta e satura, refazendo, assim, as energias. Abandona-se a inércia de um pleno vazio e lança-se, numa troca simultânea, na busca de novas e boas energias renováveis à alma e ao ser, capazes de superar o vácuo, o abismo, a falta de gravidade, o desequilíbrio. O ar que parecia rarefeito ganha partículas de energia, trazidas pelo sopro que alimenta o espírito e dá força e vigor à vida novamente.
A inércia, vencida por ela mesma, triunfa preguiçosa, sorrateira, sossegada… É como curar-se matreiramente com o próprio veneno, já não mais nocivo.
E, num nocaute estonteante, de quem deseja permanecer imobilizado, poder se assegurar somente de uma respiração tranquila e constante de quem vence a fadiga e o cansaço da vida. Bom mesmo é quando a parada não é obrigatória. Quando a vida mesma vive o seu próprio amanhecer e, cheia de energia, se consome e se refaz.
Nada como um dia após o outro.
Mas quem, afinal, nunca sentiu um grande vazio?
Antonio Trotta – Jornalista, escritor e poeta
Maravilhosa reflexão que nos leva a fazer um autoconhecimento…
Esse vazio no peito é como um buraco impreenchível, geralmente reflexo de algo profundo em nós: uma ausência, uma saudade, um desejo não atendido, ou mesmo uma desconexão com o que nos dá propósito e significado.
Passei muito por isso, na adolescência…
Às vezes, surge quando estamos nos afastando de nós mesmos, negligenciando nossos valores, desejos e sentimentos mais genuínos.
Como você diz…”nada como um dia após o outro.”
Parabéns!!!!!