POR QUE NÃO CONJUGAR FELICIDADE?
Coluna: SEGUIMENTOS - por: Antonio Trotta - Jornalista, Escritor e Poeta - 16 de outubro de 2024
Quero escrever um artigo definido, singular, sobre a felicidade. Antepor o seu elemento estrutural para dar outra morfologia à palavra e poder afirmar com todas as letras que “felicidade” deixa de ser um substantivo feminino e passa a ser um verbo, universal.
Quero poder conjugar a felicidade como se conjugam os verbos amar, sorrir, sofrer, cantar, chorar, envelhecer, sentir e tantos outros pela vida afora. Quero torná-lo um verbo intransitivo: que não exige complemento, que não necessita de verbos auxiliares; simples como “amo”, auto-explicativo e sentido com todos os sentidos. Que felicidade seja o meu estado e a minha ação. No amor há razões que a própria razão desconhece, na felicidade também.
Quero conjugar a felicidade comigo mesmo, com alguém, com tantos. Utilizar sem escrúpulos os pronomes pessoais no singular e no plural com a maior naturalidade para conjugar felicidade. Afinal, se sou feliz, ele e ela, você, eles e elas, todos nós, também somos.
O contrário de felicidade não é tristeza. Para essa última, alegria é o que melhor contrapõe. O contrário de felicidade é sofrimento. Por que é que para sofrer temos um verbo e não podemos conjugar felicidade? Do mesmo modo que sofro, que sofre, que sofremos e que sofrem, também quero a felicidade conjugar, na alma, no verso, na pele, no verbo.
Apesar de existir o verbo felicitar, sinto que ele não preenche os requisitos necessários de uma conjugação pertinente. Não nos moldes dos verbos que se conjugam na vida, pelas entranhas. Posso ser felicitado ou até me felicitar, mas desejo a felicidade na mesma proporção em que conjugo, a cada sofrimento, o verbo sofrer.
Sofre quem perde um grande amor ou um ente querido. Sofre quem passa por uma doença. E quem conquista um amor, reencontra uma paixão, recupera a saúde? “Fica” feliz. A felicidade é muito mais. É uma “ação”, um estado de espírito permanente. Por que não ter um verbo intransitivo – apesar de transitar direta e indiretamente no coração das pessoas – sem verbo auxiliar, sem complemento, sem necessidade de adjetivos? Apenas com uma só palavra, começando com uma maiúscula e terminando com um ponto final, assim como: Amo. Sofro. Canto. Choro. Sinto.
De qualquer forma, felicidade não é um porto para o qual temos que navegar para alcançar. Sendo substantivo ou tendo uma forma verbal, felicidade mora dentro de nós. Conjugar felicidade é uma tarefa árdua e, ao mesmo tempo, prazerosa, pois, além de exercitarmos na primeira pessoa do singular, é necessário reconhecer esse verbo em todos os pronomes pessoais. Só assim, a conjugação – a felicidade – estará completa.
Antonio Trotta – Jornalista
Eu te “feliço”!
Trotta, você sempre nos surpreende com toques e contextos inusitados. Sua habilidade com palavras é sem precedentes. Eu, como Escritora, também amo explorar palavras e com elas conjugar expressões ocultas para encantar. No entanto, você ultrapassa todos os limiares poéticos de expressões e criações únicas. Esse artigo definido, singular sobre a felicidade, me deixou literalmente embasbacada, maravilhada. Sorvi cada frase e o jogo das palavras como um inebriante elixir perfumado de Felicidade. A sua clareza sobre a Felicidade não ser um verbo, e deveria ser, embora a “verbalizamos” o tempo todo sem efetivamente a experimentar, ainda vamos descobrir o verbo que a caracteriza, e só assim vamos perceber que ela, a Felicidade é vitalícia em nosso ser… bastante apenas torna-la um Verbo. Você nos entregou uma Faraônica reflexão e, com relação a eu, decidi que viver felicidade como um verbo intransitivo que não precisa ser acompanhado por complemento, ou adereços, visto que conseguem transmitir uma experiência completa sozinho. E assim deve ser a felicidade. Nós a temos, e não precisamos de complemento. Estou celebrando contigo, parabéns é pequeno para caber a celebração querido Amigo!
Perfeito!!!! A felicidade deve ser algo simples, autoexplicativo, sentida e vivida com plenitude, sem depender de condições externas ou justificativas…O amor transcende a racionalidade, logo a felicidade também pode ser assim: algo que se sente sem necessariamente entender suas razões.
show
Brilhante seu texto, Trotta!
Felicidade merece ser verbo intransitivo, incondicional! Um estado de Ser, de Existir, de Espírito, que nos habita, colore a Alma e veste nosso caminhar pela Vida! Gratidão por nos lembrar!
Ao ler o texto, senti a força da felicidade vibrar nas palavras . Percebi que ela vive impregnada dentro, em algum lugar de mim também. Percebê_ lá é algo inerente aos poetas.
Lindo texto. Parabéns Trotta.