GRAVADO NUM DISCO VOADOR
Academia Caxambuense de Letras - 25 de novembro de 2024
Gravado num disco voador
Luciana Nepomuceno – Acadêmica Correspondente
Filme do Walter Salles Jr., show de Bethânia e Caetano, uma consulta, uma risada, uma pontada, ovos com gema mole, o futebol na tv, marquinha roxa, caneca de cajuína gelada, a calçada do boteco, o samba pela janela, gente lavando roupa, amassando o pão. Um conhecimento perene e, ainda assim, insuficiente: a matéria vida é tão fina.
Choro porque não sei cantar e não é possível escrever.
Pensando em mudar a orelha dos meus livros e colocar assim na biografia: dona das divinas tetas.
A voz da Bethania é portal. Canal. Rasga o véu entre os mundos (#AvalonFeelings). A única transcendência possível pra mim. É dela a presença que me invade, percorre, ocupa, de mim transborda, a presença que faz recordar o que (me) importa.
A tua presença
Entra pelos sete buracos da minha cabeça
A tua presença
Pelos olhos, boca, narinas e orelhas
A tua presença
Paralisa meu momento em que tudo começa
A tua presença
Desintegra e atualiza a minha presença
A tua presença
Envolve meu tronco, meus braços e minhas pernas
A tua presença
É branca verde, vermelha azul e amarela
A tua presença
É negra, negra, negra, negra, negra, negra
Negra, negra, negra
A tua presença
Transborda pelas portas e pelas janelas
A tua presença
Silencia os automóveis e as motocicletas
A tua presença
Se espalha no campo derrubando as cercas
A tua presença
É tudo que se come, tudo que se reza
A tua presença
Coagula o jorro da noite sangrenta
A tua presença é a coisa mais bonita em toda a natureza
A tua presença
Mantém sempre teso o arco da promessa
A tua presença
Morena, morena, morena, morena, morena, morena
Morena
Foto: Maria Bethânia – 26° Prêmio da Música Brasileira 2015, no Theatro Municipal, no Centro do Rio de Janeiro/RJ. (10/06/15) Foto: Roberto Filho/Divulgacão
Academia Caxambuense de Letras – novembro de 2024