Cultura e Lazer

ESPECIAL – A SÉRIE QUE VI – “Modern Love”

“Modern Love” é a coluna no The New York Times onde leitores relatam suas experiências amorosas. A coluna é o ponto de partida para a trama dos oito episódios independentes da série homônima da Amazon Prime. Como antecipa o título, o tema é o amor, e nas palavras da personagem Emma, “amor é um monte de coisas”. Iremos vê-lo em várias de suas apresentações, compondo narrativas que se desenrolam, às vezes por caminhos previsíveis, mas, outras vezes, passando longe do óbvio. Ou seja, nada tão diferente das histórias de amor que se ouvem por aí, ainda que sobre pessoas nem tão carismáticas, em cenários nem tão nova-iorquinos.

Na série, o realismo marcante de alguns episódios contrabalançam a fantasia de outros, como a do episódio 3, “Me aceite como eu sou, quem quer que eu seja”. Nele, Lexi, uma jovem advogada, assiste sua vida amorosa ser inviabilizada por uma bipolaridade hollywoodiana, ainda que em Manhatan.

Como nos relacionamentos amorosos, a série tem seus altos e seus baixos, embora se deva reconhecer que, em se tratando de expressões de amor, alguém se identificará mais ou menos com cada uma delas. A invenção de uma figura paterna, com uma incompreensível elaboração, em “Então ele parecia um pai, e era só um jantar, não é?” pode, por exemplo, levar a se considerar o episódio 6 como algo supérfluo.

Ainda mais, se o primeiro episódio da série se desvia com tanta sutileza e sensibilidade do amor sensual. “Quando o porteiro é seu melhor homem” (When the doorman is your main man) nos apresenta Maggie, uma jovem solitária cujos acompanhantes são avaliados com extrema franqueza por Guzmin, o austero e enigmático porteiro de seu prédio. O curioso é que, apesar dessa assimetria “hierárquica”, Maggie permite e considera as críticas de Guzmin (ainda que não se guie por elas), como se, por alguma razão, elas fossem desejadas. A partir de uma ocorrência inesperada, o porteiro surge como a opção de apoio para ela, e um afeto até então apenas presumido torna-se cada explícito. Ao mesmo tempo em que Maggie passa a dispor dessa referência, o ainda enigmático Guzmin deixa de lado a austeridade, e os dois partilham um sensível ou, por vezes, comovente relacionamento, que parece atender à carência de um e outro. Ou, quem sabe, a alguma carência mítica em todos nós.

(Eder Schmidt) 
@drederschmidtpsiq

 

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