Um CD trilegal
A expressão do título qualifica o que há de melhor no Rio Grande Sul. Hoje é dia de A Flor do Som (independente), segundo álbum do compositor, vocalista e guitarrista gaúcho Leandro Bertolo – que ilumina o orgulho pelo chão em que nasceu.
Ao pensar em trilegal… bem, ao conquistar a Copa do Mundo, disputada no México, em 1970, o Brasil sagrou-se tricampeão… e os gaúchos cunharam a expressão que significa algo mais do que “excelente”: trilegal.
Das onze músicas, sete são de Bertolo, três em parceria com sua esposa Bianca Marine e uma com Gustavo Filho. Composições que patenteiam o raciocínio musical de um compositor que sabe do que é capaz, e o faz.
“Flor do Som” (Leandro Bertolo e Bianca Marini) abre o álbum revelando o porquê do título: o casal está em Gramado, RS. Bianca tem nas mãos um pequeno vaso de vidro em forma de flor cujo repertório vinha de uma lista de músicas diversas. Eles perceberam o que tocava naquele momento era Mozart: o que lhes pareceu um belo título para o disco que ali aflorava. Com arranjo de Alexandre Vieira, brotava o violão de Bertolo, mais batera (Jua Ferreira), baixo (Nuno Prestes), pianos (Luis Henrique New) e o sax (Marcelo Ribeiro). Belo e romântico início.
“Momentos Felizes” (Leandro Bertolo e Gustavo Filho), um convite a deixar a tristeza de lado e vislumbrar renovada esperança na vida. Para tanto, lá estão o arranjo de Luis Henrique New, pianos, violão e voz (Leandro Bertolo), batera, baixo e a flauta de Luizinho Santos.
Em “Armadilha” (LB e Bianca Marini) o arranjo é de Luis Henrique New. Nele brilham flauta, baixo, batera, percussão, violão e a voz de Leandro Bertolo. Desde o início lento até que o bolero-salsa agite a levada, as cordas vêm bem dispostas. O intermezzo é da flauta, enquanto Bertolo, um bom e afinado cantor de suas próprias músicas, tem nos violinos (Vagner Cunha) um bom aconchego.
“Canto Forte” (LB) tem Bertolo cantando à capella, noutro belo arranjo de Luis Henrique New. O samba vem na percussão (Cassiano Miranda e Kico Moraes). Em alguns momentos a letra é quase falada. A pegada segue com cavaco (Cabelinho), violões de sete e de seis cordas (Max Garcia), batera, baixo, coro e os pianos de Luis Henrique New.
“AT’KI” (LB): com arranjo de Luiz Henrique New e de Alexandre Vieira, o fervor do passo do frevo esquenta com a voz de Bertolo. Para tanto, batera, guitarra (Ed Souza), baixo, sax alto (Luizinho Santos), trompete (Renato Dall`Ago) e o trombone de Humberto Boquinha contribuem para o fecho de ouro do álbum.
A Flor do Som é um belo disco criado por Leandro Bertolo para compartilhar seus acertos com os ouvintes que têm na música um bálsamo de fé e força, para quem não aguenta mais mortes, negacionismo e desesperança.
Ficha técnica:
Estúdio Porta da Toca
Bruno Klein e Renato Mujeiko (técnicos de gravação)
Luís Henrique New (direção musical e produção)
Bruno Klein (mixagem)
Ciro Moreau (masterização)
Jefferson Cardoso (direção de arte e projeto gráfico)
Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4
Sobre o Colunista:
Aquiles Rique Reis, niteroiense, logo se dispôs à vida. No MPB4 desde 1965, foi como se tivesse nascido para sempre cantar e muito sentir as dores do mundo, que são também suas. Hoje, ele canta, e há quinze escreve sobre música, com isso se encontra e vive.