Cultura e Lazer

ESPECIAL – A SÉRIE QUE VI – O Método Kominsky

O isolamento social, a suspensão de, pelo menos, boa parte de nossas atividades, ou até mesmo a vontade de nos desligarmos do mundo foram, para muitos, motivos para que mergulhássemos nas séries. Tenho assistido algumas, umas boas, outras nem tanto. Ou, falando de maneira mais apropriada, de umas eu gostei, de outras nem tanto. Porque cada um assiste – o que quer que seja – com o seu próprio olhar. Aqui, eu vou passar o que eu vi nas séries que vi. (Eder Schmidt) 

O Método Kominsky


O humor (as exceções são raras) é fundamentalmente um exercício de sadismo. Ou, de seu oposto, o masoquismo, onde as situações despertam o sadismo de quem as assiste. Essa é a base do dramedy, gênero em que a comedia emerge de situações dramáticas. E essa é, também, a linha central do humor em O Método Kominsky, série apresentada pela Netflix, atualmente em sua segunda temporada. Pode não parecer muito divertido assistir Sandy Kominsky (Michael Douglas) um ex-ator nem tão famoso e atual coach de interpretação, dividir a experiência do envelhecimento com seu melhor amigo, Norman Newlander (Alan Arkin), empresário de artistas em Los Angeles, ambos avançados na casa dos 70.
Nesse cenário, a hipertrofia prostática, a disfunção erétil, a incontinência urinária, os relacionamentos relutantes na terceira idade e o fantasma da solidão, perpassam a trama. Temas que – vamos concordar – se prestam mais ao sinistro do que ao risível. Mas não ali, onde os dois atores, bastante à vontade, esbanjam talento, sustentando uma surpreendente leveza na abordagem de questões tão pesadas. Longe de qualquer pieguice, talvez a única permissão para a ternura explícita esteja nos diálogos de Norman com Eileen, sua esposa morta por uma doença incurável, ainda no primeiro episódio. Já em um plano implícito, por traz do vacilante orgulho de Sandy e do cinismo de Norman, percebe-se um inegável afeto que se expressa pela solidariedade e pela tolerância mútua.
Conseguir encontrar tanto humor (ainda que cáustico) no envelhecimento é, sem dúvida, uma proeza do produtor e principal roteirista Chuck Lorre, apoiado por um elenco brilhante.
Talvez a série atinja mais o público masculino, principalmente o da terceira idade. Ou não. A expectativa da eterna juventude, seja no espírito, nas questões da vida ou no corpo, é algo que todos perdemos muito cedo. Feliz de quem tem a chance de rir disso.

@drederschmidtpsiq

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