Cultura e Lazer

ESPECIAL – A SÉRIE QUE VI

MINDHUNTER - Netflix - parte 1

Uma aula sobre perversão

Mindhunter (2017 e 2019), traz a história dos agentes do FBI, o obstinado Holden Ford e o veterano Bill Tench. Frente a crimes que não parecem repetir as motivações habituais – amor ou dinheiro – Ford e Tench tentam compreendê-los indo além das diretrizes clássicas. Eles terão a companhia da psicóloga Dra. Wendy Carr, dispostos a desenvolver um campo investigativo inovador, baseado na psicologia como método para revelar uma nova classe de motivos. Trabalhando à base de entrevistas realizadas junto aos que Ford nomeia “assassinos sequenciais”, os entrevistados na série são, todos, personagens reais, relatando suas histórias reais.

Há algumas décadas cinema e TV têm se mostrado fascinados por perversos de todos os tipos, sendo Hannibal Lecter o mais famoso. Desviantes que são, a composição dos personagens permite uma liberdade bem maior do que se fossem limitados a serem “gente como a gente”. Só que, apesar do apelo dramático, o ficcional e inverossímil salta aos olhos, mesmo de quem é alheio à psicopatologia. Na vida real, os personagens seriam dferentes.

E esse é o grande diferencial de Mindhunter. Na série, a perversão aparece como tal, sem as concessões de Hollywood ou a banalização com que o tema é tratado, mesmo por autores psis. Nesse sentido, as cenas com o necrófilo Edmund Kemper são verdadeiras aulas sobre o psiquismo perverso.

Kemper, que ainda cumpre prisão perpétua, matou dez pessoas, incluindo os avós e a mãe, cuja cabeça decapitada foi utilizada num ato de felação. Na série, seus encontros com Ford são carregados de altíssima tensão, e o controle sádico do interlocutor, característico da atitude perversa, seria inegável, ainda que ele não segurasse o docilmente pescoço do agente para ilustrar seus crimes.

Aliás, se todos os entrevistados demonstram estar no controle, todos desfrutam, igualmente, do prazer de perceber nos agentes a divisão entre repulsa e desejo de ouvir mais.

Porém, veremos que se embrenhar por aquele psiquismo terá consequências.

Eder Schmidt – Psiquiatra e psicanalista

@drederschmidtpsiq

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