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ESPECIAL – A SÉRIE QUE VI – Fauda-(2a parte)

Algo muda a partir da 2ª temporada de Fauda, tanto no roteiro quanto na direção. Ela se torna, claramente, uma série de ação, e a proposta de um equilíbrio entre as motivações dos dois lados se perde. Os diretores e roteiristas (entre eles, o ator Lior Ras) nos conduzem, pouco a pouco, para o ponto de vista israelense, dando espaço para a polarização “mocinho-bandido”, evitada na temporada anterior. Mas, o que se ganha em ação e movimento, se perde em sensibilidade. A religiosidade de Panther dá lugar a expressões de fanatismo, seu amor pela esposa difere da quase obsessão de Walid, e seu idealismo contrasta com o “olho por olho” de Al Makdasi. Se antes as motivações de ambos os lados pareciam desculpáveis, agora é mais fácil rejeitar a uns e a outros.
Figuras do exército israelense, antes ausentes, agora são mostradas, e o Hamas passa a ser atuante. Por outro lado, os roteiristas parecem não se importar em mostrar o “herói” Doron como um frio manipulador, transformando as pessoas que cativa em utensílios para seus propósitos (acima de tudo a vingança pessoal), indiferente ao alto o preço a ser pago por elas.
De fato, Doron é o anti-soldado: coloca as motivações pessoais acima dos objetivos de sua unidade, inutiliza esquemas táticos, coloca companheiros em risco e desobedece a superiores. Fosse na vida real, seus comandantes já o teriam prendido!
A 3ª. temporada segue pelo mesmo caminho, com muita ação e pouca reflexão. Os palestinos continuam atrapalhados, enganados por quem estiver mal vestido e com a barba escurecida; seus soldados são capazes de permitir que um sequestrado mantenha a posse de um celular e de uma faca; o Hamas é ingênuo e vulnerável. Como série de ação, no entanto, Fauda atende muito bem, e há que se destacar a beleza nada hollywoodiana do elenco.
N Pelas três temporadas, Doron segue indestrutível, ainda que o extremismo cego ao seu redor traga o risco de a tudo destruir.
Quanto a nós, espectadores, estamos longe, geográfica e culturalmente, da questão Israel – Palestina, mas, lamentavelmente, o extremismo cego é algo que ultimamente nos tem soado bastante familiar.

(Eder Schmidt) 
@drederschmidtpsiq

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