MANTER O EQUILÍBRIO
Coluna: SEGUIMENTOS - por: Antonio Trotta - Jornalista, Escritor e Poeta - 15 de janeiro de 2025
A infância traz grandes conquistas. Nela traçamos uma espécie de “personalidade” para a vida adulta. Sucessos e frustrações estão muito ligados aos nossos primeiros contatos com a realidade, com o que lidamos e com o que dela aprendemos. Da “primeira idade” tiramos lições para a vida toda.
Lembro-me do dia em que, voltando da aula para casa, estava acompanhado por um colega de escola. Vínhamos a pé: eu carregando o material escolar e ele com uma mochila empurrava a sua bicicleta.
Já nas ruas do bairro onde eu morava, no Porto Velho, ele me ofereceu a sua bicicleta para dar uma volta. Meu desejo era enorme e minha vontade percebida. O único problema é que eu não sabia andar de bicicleta. Jamais tinha pedalado uma delas. A sensação de euforia se misturava com a frustração. A minha oportunidade estava ali, à minha frente: “um cavalo arreado passava e eu não estava sabendo montá-lo”.
Meu desejo era tamanho que nada disse ao meu colega. Montei na bicicleta e saí pedalando. Não caí, não parei. Apenas pedalava e ganhava velocidade e satisfação. A sensação era de que conquistava o mundo. Lá estava eu, sem aulas, sem explicações, sem empurrões, sem nada. Montei e comecei a andar. Quase não me continha de contentamento.
A cada pedalada, queria gritar, contar aos amigos que eu estava andando em uma bicicleta apenas pelo desejo e vontade de andar. Ia até certa altura da rua, virava e voltava sem compreender: como uma pessoa conseguia se equilibrar montado em uma coisa fina, cheia de canos conectados e ainda por cima presos a dois aros?
Sem respostas, sabia, apenas, que tinha encontrado a felicidade sobre duas rodas. Parecia um garoto que acabara de ganhar uma bala, uma bola ou a sua primeira bicicleta. Aquela, realmente, não era minha, mas, com certeza, eu saberia pedalar em todas as outras, pois tinha ultrapassado os meus próprios limites.
Anos depois de minha conquista, o meu filho caçula veio me contar que montou numa bicicleta de seu colega e saiu pedalando. Deu uma volta sobre duas rodas. Creio que ele também tenha aprendido a conquistar o mundo. Certamente, aprendeu que a vontade supera limites e que as oportunidades são como bicicletas prontas para serem pedaladas, principalmente quando as lições são mais bem aprendidas na infância.
Antonio Trotta – Jornalista, escritor e poeta
Foto: Pixhere Domínio Público – Creative Commons CC0.
Relato incrível!!!
Maravilhoso texto…As experiências dessa fase, sejam elas marcadas por triunfos ou desafios, funcionam como um aprendizado essencial, influenciando nossas escolhas e a maneira como enfrentamos o mundo adulto. É nesse período que construímos as bases de quem somos e de quem podemos nos tornar. Parabéns!!!