Zé Guilherme, braços abertos para a música
O que determina a miscigenação de um povo? Seria a identidade da cultura que o caracteriza? Ou a música que se faz e toda gente canta? Prosaica indagação (vinda de um curioso) que me veio à cabeça ao ouvir o trabalho do juazeirense Zé Guilherme, cantor e compositor radicado em São Paulo.
Zé é o título de seu primeiro EP (independente). Pronto para ser lançado ainda no mês de novembro de 2021, Zé Guilherme chega ao mercado após quatro álbuns e cinco singles. O álbum Zé é formado por seis composições autorais de estilos variados, do pop ao maracatu, passando pelo samba e pelo xote. Elas bem representam a trajetória de Zé Guilherme desde Recipiente (2000) até Alumia (2018), que o consolidou como compositor.
O parágrafo anterior foi praticamente tirado do release e me chamou a atenção sobre miscigenação. Pois não só Zé Guilherme como inúmeros outros compositores vêm pro Sul trazendo a cara, a coragem e um violão no matulão, cujo cadeado é um nó (como bem disse Gonzagão em “Pau-de-arara”).
A música de Zé Guilherme espelha a sua vida. Suas raízes nordestinas vieram para São Paulo com ele, aqui encontrando o calor de uma metrópole que por si só é significado e sinônimo da própria miscelânea: São Paulo, capital miscigenação.
Seu novo trabalho tem produção musical e arranjos assinados por Cezinha Oliveira, responsável também pela gravação e pela mixagem do disco. Cezinha é um reforço considerável para vestir múltiplos gêneros de ritmos universais.
Outra participação ajustada aos conceitos das músicas sem fronteiras é a de Luana Mascari, cantora, compositora, pianista, ukulelista e educadora musical, natural de Caraguatatuba (SP). Bela voz.
“Marcas” (Zé e Mario Tommaso) abre a tampa. Segundo Zé, “A canção pop celebra uma noite de amor” – danadinho!
“Meu Querer” é uma canção de Zé que remete à sua raiz cultural nordestina. De refrão marcante, trata do desejo de ter por perto a pessoa amada. Ah, o amor!
Os resquícios de nostalgia do samba inédito “Esperar” (ZG e Filipe Flakes), com sua levada tradicional, falam de uma madrugada triste. Vixe!
Zé, Luana e Cezinha formam o tripé que traz música ao coração dos que a têm como bússola: conhecer para se identificar. Para tanto, lá estão os instrumentistas Jonas Dantas (piano), Cezinha Oliveira (violão, baixo elétrico e guitarra), Ivan Alves (bateria e percussão), Denilson Martins (clarinete, sax soprano e flautas) e Luque Barros (violão de 7 cordas).
Sob os auspícios de Zé Guilherme, todos caem dentro de xotes, sambas, pop, maracatus, cirandas, enquanto São Paulo, pouso atual de Zé, recebe-o com curiosa afeição e brilho nos olhos.
Assim a fortuna da música popular brasileira tem à sua frente todo um conjunto de divisões rítmicas e harmonias características, prontas para (re)nascer. Ainda mais com um grupo como o que Zé ajuntou.
Mais: com sua força vocal e composicional, Zé Guilherme sintetiza a diversidade da música popular brasileira.
Sobre o Colunista:
Aquiles Rique Reis, niteroiense, logo se dispôs à vida. No MPB4 desde 1965, foi como se tivesse nascido para sempre cantar e muito sentir as dores do mundo, que são também suas. Hoje, ele canta, e há quinze escreve sobre música, com isso se encontra e vive.