Há uma temporada, pelo menos uma vez ao ano, que milhares de borboletas atravessam a cidade inteira. Outro dia, abri a janela do meu escritório e me deparei com uma daquelas cenas hollywoodianas: as borboletas voavam lentamente em uma só direção. Parei para observar aquele momento raro, em puro êxtase.
Enquanto observava a sincronia do voo, vi uma bela borboleta caindo em forma de espiral, antes que chegasse ao chão, consegui segurá-la em minhas mãos. Fiquei segurando-a ali por um tempo necessário, até ela voltar ao seu voo. Num primeiro instante achei que a viajante estivesse morta, afinal, algumas espécies de borboletas vivem apenas 24 horas. Enquanto ela repousava tentando alçar voo novamente, fiquei a imaginar a que distância ela migrou, e o porquê de vir tão longe? A explicação veio por si só: a natureza é sábia, não deixa escolhas, e sim destino traçado, é espetacular o seu modo de nos ensinar.
O que vale 24 horas? Bom, 24 horas é a duração de um dia, contudo, nesse pouco tempo elas fazem muito; voam a lugares longínquos, alimenta-se, e cumprem sua sina. O que fazer com 24 horas? Eu não sei exatamente, elas sabem.
Quem sabe, em algumas horas se reproduzem deixando a nova geração que irá continuar o voo de borboletas amarelas colorindo o céu.
A borboleta que pousou em minhas mãos, depois de um momento ocioso, não desistiu da sua jornada de chegar a algum lugar; uma árvore, um bosque, uma floresta, ou uma simples flor por aí, espantosamente, bateu as asas e voou junto às outras.
Esse breve ciclo para as borboletas é fácil, sua missão em 24 horas pode está completa, o difícil mesmo é fazermos o mesmo em mais tempo. Passamos anos para encontrar nosso caminho, ainda assim, temos a sensação de não cumprir nosso verdadeiro propósito. Qualquer sonho, por mais insignificante que seja, cumprem sua função de fósforo, valem enquanto estão acesos, iluminando um mundo que, sem eles, seria mais triste e escuro.
Kerley Carvalhedo é cronista e escritor. É membro correspondente da Academia Caxambuense de Letras. Começou sua carreira no jornalismo em 2011 no jornal ‘DiárioRS’. É autor de livros, entre eles o livro de crônicas “K Entre Nós” sua obra mais conhecida.