Economia e Negócios

CRISE VAI REDUZIR PODER DE COMPRA E FORÇAR MIGRAÇÃO PARA O VIRTUAL’, DIZ PRESIDENTE DO SEBRAE

Em entrevista ao jornal FOLHA de São Paulo, o Presidente do SEBRAE Carlos Melles fala sobre os impactos do coronavirus nas pequenas e médias empresas.

O que esperar durante e após a crise?

Os impactos não são momentâneos. Além de reduzir o poder de compra, a crise vai acentuar tendências que já vinham crescendo, como as vendas online, o delivery, o teletrabalho e o uso do WhatsApp como ferramenta de interação com os clientes.

Empresas que já investiam em plataformas online e de entrega se adaptaram rapidamente e até aumentaram as vendas. Mas alguns setores mais afetados, como o varejo tradicional, o turismo, os salões de beleza e a alimentação fora do lar, que representam 13 milhões de negócios, estão passando por uma transformação digital forçada.

Vemos uma explosão de lives nas redes sociais. Quem não estava 100% conectado foi obrigado a fazendo isso às pressas. Quando o isolamento terminar, os empresários deverão manter contato direto com os clientes, para continuar gerando valor e atendendo às suas necessidades.

Como o empreendedor deve traçar seu plano de sobrevivência?

Planejar e negociar são as palavras de ordem. O primeiro passo é dimensionar os custos e avaliar se é conveniente manter a empresa operando normalmente, reduzir a operação ou fechar as portas até que a crise passe.

Depois, é preciso reduzir ao máximo os gastos secundários, que não são imprescindíveis para manter a empresa aberta, e negociar com os públicos do negócio: fornecedores, parceiros, clientes, agentes financeiros. Vale tentar reduzir o aluguel, alongar prazos de financiamentos e de entrega aos clientes.

Por fim, é essencial usar a criatividade para aumentar a receita, como aqueles restaurantes e salões de beleza que estão vendendo vouchers com desconto para consumo no futuro. Acreditamos que essas ações criam uma sensação de pertencimento e fidelidade aos pequenos negócios.

Demitir ou não demitir funcionários? O que deve ser levado em consideração na hora de decidir?

Apesar da queda no faturamento, a demissão não precisa ser a primeira alternativa. O isolamento social não vai durar para sempre e, quando as empresas reabrirem, vão precisar de funcionários qualificados e prontos para retomar as atividades rapidamente.

Antes de demitir —e seria uma demissão sem justa causa, com maior custo para o empregador— é melhor considerar saídas como a interrupção do contrato, autorizada por medida provisória, a concessão de férias coletivas, a antecipação de férias, o teletrabalho ou até mesmo a redução salarial.

O empreendedor só deve tomar empréstimo para capital de giro e, mesmo assim, quando tiver certeza de que o fluxo será restabelecido.

É fundamental negociar com o agente financeiro uma boa carência para o início do pagamento e estudar as alternativas anunciadas pelo governo federal e pelas instituições financeiras.

Foram criadas linhas de crédito para pagamento de funcionários e fluxo de caixa em condições especiais para micro e pequenas empresas. Mas o empreendedor não deve nem pensar em tomar recursos para qualquer outra ação, como aquisição de máquinas e equipamentos, móveis ou veículos.

Que recursos o Sebrae têm colocado à disposição dos empresários?

Estamos formulando políticas públicas de emergência, com o governo federal e outros atores, que ampliam o acesso a crédito, flexibilizam questões trabalhistas, reduzem a burocracia e racionalizam a cobrança de impostos.

Por exemplo, o Sebrae vai destinar 50% de sua arrecadação ao Fampe (Fundo de Aval para as Micro e Pequenas Empresas). Esses recursos servirão de garantia para que milhões de empreendedores consigam crédito junto aos bancos.

Nossa expectativa é que sejam feitas operações de microcrédito que somem R$ 12 bilhões até o final do ano. Além disso, desenvolvemos conteúdos de orientação pensados para vários setores. Nosso corpo técnico está voltado ao desenvolvimento de soluções.

  • Fonte: FOLHA de São Paulo – https://www1.folha.uol.com.br/mpme/2020/04/crise-vai-reduzir-poder-de-compra-e-forcar-migracao-para-o-virtual-diz-presidente-do-sebrae.shtml

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