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Por: Aquiles Rique Reis - vocalista do MPB4

Talento à flor da pele

É claro que é genial ouvir um instrumentista virtuoso em solos e improvisos arrebatadores. Sim, eu sempre acreditei nesta afirmativa – é assim e pronto!

Mas olha só, eu tenho na mão a prova cabal de que quando juntos, os instrumentistas podem ser ainda melhores. Ao ajuntar mais de um formidável talento, o resultado pode ser admirável. Assim foi com o CD Alessandro Penezzi e Fábio Peron (independente, com auxílio do ProAc).

Eu já ouvira separadamente o violão de sete cordas de Penezzi e o bandolim de dez cordas de Peron e os considerei instrumentistas de grandes predicados.

Dizem no mundo da música que, antes mesmo de Peron e de Penezzi decidirem por topar a parada, os instrumentos conversaram animadamente, do jeitinho mesmo como tocam, e avaliaram como seria se os dois instrumentistas os levassem para tocar juntos.

Com as notas graves e profundas do sete e as mágicas notas do bandolim de dez, pensaram lá com suas cordas. Disse o violão de sete: “Que tal se juntássemos os trapinhos e fôssemos morar num lindo estúdio? Com belos computadores na suíte, vista para monitores de alta definição, com grandiosas entradas e saídas e uma lareira na sala de estar? Do tamanho suficiente para criarmos um som diferenciado, com o qual, a partir daí, trilharíamos juntos?”

Foi quando, numa pausa, o bandolim mandou: “Vamos nessa?” E o sete sorriu, dizendo: “Seria bom à beça!”, ao que retrucou o bandolim: “Tô achando isso bom às pampas”, e em uníssono combinaram: “Vamos falar com os caras!”

Assim foi que saiu um álbum magistral! Os timbres ajudavam, o suingue empolgava. Tudo isso em meio a sorrisos dos instrumentistas. Definitivamente, ali não havia espaço para egos.

À medida que eram ouvidas as faixas, sacava-se uma emoção crescente. E os arranjos tornavam-se mais enriquecedores tanto para o sete quanto para o bandolim habilmente tocados pelos dois virtuosos. Foram dez músicas, cinco de Penezzi e cinco de Peron, que soam com frases melódicas harmoniosas e clarividentes, envoltas em enorme bom-gosto.

Alternando frases suaves a outras avassaladoras, instrumentos e instrumentistas se divertem, enquanto nós, os ouvintes, nos deliciamos com tanta capacidade criativa. Vontade de aplaudir…

Os instrumentos transpiravam, tal era o contentamento. Enquanto o ad libtum sucedia frases desafiadoras, com fartura impressionante de notas, a dinâmica era tudo de bom. Frases em uníssonos, intermezzos com improvisos iluminados, alternavam-se às sequências de notas abertas.

Assim foi que Peron e Penezzi se mostraram fiéis ao trabalho concebido por eles e seus instrumentos. E rola o som: um empresta ao outro momentos de beleza inovadora, enquanto o outro retribui com notas intensamente correspondidas.

Somadas, melodias e harmonias resultam em música instrumental digna de ser considerada uma das mais belas do mundo. Viva os instrumentistas! Salve os compositores! Todos os que nos cobrem de contentamento com seus talentos à flor da pele.

Sobre o Colunista: 

Aquiles Rique Reis, niteroiense, logo se dispôs à vida. No MPB4 desde 1965, foi como se tivesse nascido para sempre cantar e muito sentir as dores do mundo, que são também suas. Hoje, ele canta, e há quinze escreve sobre música, com isso se encontra e vive. 

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