Jovem para sempre
Hoje iremos ao palco do produtor (sem essa de que músico não sabe administrar seus trabalhos), tecladista, compositor e um ótimo cantor Mú (Mauricio) Carvalho. Conheço-o desde os anos 1980, quando o MPB4 o convidou e a outros jovens instrumentistas, dentre eles o contrabaixista Dadi, irmão de Mú, para gravar o nosso CD Vira Virou.
Só depois conheci seus outros irmãos (a família é pura música), o saudoso produtor Sérgio Carvalho e a querida pesquisadora de MPB Heloísa Tapajós. Havia quem brincasse dizendo que “Lozinha é irmã da música popular brasileira”. Deixaram-nos cedo. Fazem falta.
A tampa abre com um instrumental do sucesso “Alegrias de Quintal” (Mú Carvalho), que também nomeia o álbum independente do mesmo nome. Para gravar seu primeiro CD autoral, Mú convidou três craques: Júlio Raposo (guitarras), Lancaster Lopes (contrabaixo) e Pedro Mamede (bateria).
“Sapato Velho” (Mú Carvalhol, Claudio Nucci e Paulinho Tapajós). Esse que é outro grande sucesso de Mú,, com seus parceiros de fé, Claudio Nucci e Paulinho Tapajós (um saudoso amigo), tem duas versões no CD: uma instrumental e outra que até hoje nos encanta ouvir. A intro é ad libitum. O teclado esbanja perfeição. Logo a harmonia aponta para a melodia original da música. A batera vem no contratempo. E o quarteto arrasa no arranjo (todos no CD são de Mú), que volta a ser ad libitum. Em duo com Mú, Zé Renato, outra grande e especial presença, está cada vez cantando melhor… Meu Deus!
“A Voz de Um Amigo” (Mú Carvalho, Jonas Myrin e Tuca Oliveira) é luminosa. Dividindo o canto com Mú, Tuca Oliveira é importante reforço na puxada do baião arretado. O caxixi segura o lance, enquanto guitarra e baixo revelam a melodia que a harmonia engalanou. Noutro duo vocal, as vozes de Mú e Tuca abrem em terças.
“Magia Tropical” (Mú Carvalho e Evandro Mesquita) quebra tudo. A voz de Evandro Mesquita reforça a alegria – Mú e Evandro serão jovens para sempre. O baixo segura a parada, enquanto a guitarra repete um acorde. Logo o teclado volta à cena para improvisar e novamente se divertir sendo maneiro.
“Simplesmente Pode Acontecer” (Mú Carvalho e Tuca Oliveira) tem intro sacudida, que leva o teclado a notas agudas. Em outro bom duo, desta vez com a voz afinada de Ana Zingoni, Mú revela discernimento e bom-gosto.
“Swingue Menina” (Mú Carvalho e do saudoso Moraes Moreira) é um reggae que traz à cena uma das muitas virtudes de Mú: a capacidade de criar levadas pop.
Ficha técnica:
Mú Carvalho (teclados)
Júlio Raposo (guitarras)
Lancaster Lopes (baixo)
Pedro Mamede (bateria)
Gravado no Boogie Woogie Music. Técnico de gravação: Alexandre Veiga; mixagem e masterização: David Brinkworth
Distribuição: Ingrooves. Capa: Batman Zavarese. Foto: Leo Aversa.
- PS. Morreu o produtor de discos JC Botezzeli, um gigante a resguardar a música brasileira. Com sua partida, perdemos um incansável gerador de álbuns seminais, como os de Adoniran Barbosa e Cartola. Descanse em paz, imenso Pelão.
Sobre o Colunista:
Aquiles Rique Reis, niteroiense, logo se dispôs à vida. No MPB4 desde 1965, foi como se tivesse nascido para sempre cantar e muito sentir as dores do mundo, que são também suas. Hoje, ele canta, e há quinze escreve sobre música, com isso se encontra e vive.