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TEMPO PRESENTE

Coluna: SEGUIMENTOS - por: Antonio Trotta - Jornalista, Escritor e Poeta - 16 de abril de 2025

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“O nosso destino é irreversível e algemado no tempo.

Tempo é a substância da qual somos feitos.

O tempo é um rio que nos leva,

É um tigre que nos devora,

É um fogo que nos consome.”

 

“Quando eu era criança” é passado; portando, já tem o seu “tempo”, ou seja, “quando eu tinha a idade de um garoto” já decorreram muitos anos. Quando olho para trás, vejo-me menino; quando enumero esses anos, percebo que o tempo passou e ficou velho. Eu sou um menino do século passado. Tenho uma história escrita e vivida há muitos e muitos anos.

O ontem já ficou velho, o amanhã ainda está para nascer. Ao recordar o meu tempo de menino me faz cronologicamente estar na contramão do tempo, pois os anos passam e marcam. Quanto mais passado, mais menino sou, mais novo me torno. Quanto mais retorno ao tempo de minha infância, deparo-me com o meu início, meu princípio. Puxa, mas já faz tanto tempo! São décadas vividas que, simplesmente, passaram. Não posso vivê-las mais, apenas recordá-las.

Percebo que, quando tento me prender ao passado, não vivo. O passado me envelhece. O passado serviu para que eu existisse e chegasse até aqui. Bebo da fonte da minha infância e aprendo com o meu passado, mas não vivo nele.

O futuro é muito novo para mim. Não sei se vou existir amanhã ou depois de amanhã. No futuro ainda sou projeto, um plano, algo a ser realizado, conquistado. O tempo não existe no futuro, nem eu!

Sei que o tempo me consome, me devora. Sei que faz muito tempo “o tempo da minha infância”; talvez seja por isso que olho para trás com carinho. Quanto me volto para o passado, vejo-me um menino cuidando do tempo que passou e que agora está velho, precisando de mim.

Assim vou cuidando do hoje, do presente, vivendo intensamente a cada minuto. Quero poder somar cada dia aos dias de minha vida como um presente, um momento único. Uma vez vivido, posso pendurá-lo na parede do tempo e relembrar com satisfação: Puxa, como aquele menino viveu intensamente e apaixonadamente a vida! O tempo passa, a matéria envelhece, mas a vida se renova a cada instante.

 

Antonio Trotta – Jornalista, escritor e poeta

11 Comentários

  1. A. Trotta

    teu texto nos faz recordar leituras poéticas-teológicas ( sim, eclesiastes 3: 1-8)
    ” ¹ Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.

    ⁸ Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz. ”

    é uma texto-crônica, como nos ensinou Umberto Eco, sobre intertextualidades.
    fabuloso: como um estóico, aproveite seus tempos.

  2. Se estamos identificados com a mente, estamos presos no tempo. Uma compulsão para vivermos quase exclusivamente da memória ou da antecipação. Isso cria uma preocupação infinita como passado e o futuro e há uma relutância em respeitar o momento presente e permitir que ele aconteça. Como você mesmo diz: Quero poder somar cada dia aos dias de minha vida como um presente, um momento único.” O tempo passa, a matéria envelhece, mas a vida se renova a cada instante”. Temos essa compulsão porque o passado nos dá uma indentidade e o futuro, promessas, de salvação de realizações. E são ambos, passado e futuro, ilusões.

  3. Seu texto nos lembra que o passado deve ser acolhido como fonte de aprendizado, mas não como prisão, e que o futuro é apenas um horizonte, não uma garantia. É no presente que a vida se manifesta em sua plenitude, e cabe a cada um de nós vivê-lo intensamente….“a vida se renova a cada instante” é uma poderosa mensagem de esperança e resiliência. Parabéns

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