FÉRIAS NO INFINITIVO
Coluna: SEGUIMENTOS - por: Antonio Trotta - Jornalista, Escritor e Poeta - 29 de janeiro de 2025
Janeiro é sinônimo de férias e de muitos verbos no infinitivo. Descansar. Viajar. Pegar leve na vida e esquecer as horas. Dormir bem tarde e assistir filmes até a televisão ficar fora do ar. Sair com os amigos. Dormir fora, curtir madrugadas e esperar o pôr do sol. Organizar acampamento, marcar cachoeira, usar bronzeador e mergulhar fundo no nada. Adentrar as matas, percorrer trilhas sem muita pressa. Caminhar sem rumo e viver a natureza.
Estourar pipoca, abrir geladeira umas quinhentas vezes ao dia. Ouvir músicas, cantar junto, fazendo coro com um bando de desafinados. Sentir fome e inventar comida. Dar receita de mexido. Colocar mais água no suco, pois tem mais gente na turma. Decidir, no jogo da velha, no palitinho, no par ou ímpar, o sabor da pizza. Contar moedas, fazer vaquinha para comprar mais uma bebida. Iniciar namoros, desfazer namoros. Começar. Recomeçar. Passear na praça, ligar para alguém e bater um longo papo, sem jeito, sem graça, mas cheio de charme, de azaração.
Carregar mochila, esquecer documento, andar de bus e achar divertido. Encontrar velhos e novos amigos, criar laços que poderão se tornar resistentes e irresistíveis pela vida toda. Virar esquinas e dobrar quarteirões. Dar de cara com alguém que só se aparecia nos sonhos. Ficar sem graça, sair com pressa, não deixar contato. Lamentar por não ter pensado antes e ter agido por impulso. Acreditar que tudo pode ser refeito nas próximas férias. Rir do fora e chorar por dentro. Desabafar. Levantar o astral e entrar na fila novamente.
Espreguiçar sem pressa, sem atropelos, e bocejar com gosto e com tempo. Virar para o canto e dormir. Acordar em plena manhã, saber das horas e mergulhar no sono novamente. Almoçar na hora do café da tarde e lanchar na hora do jantar. Abrir o chuveiro e deixar, junto com a água, a vida escorrer.
Desmarcar compromissos para pegar piscina, bater papo, andar de bicicleta ou, simples e apaixonadamente, ler um livro, aquele que, há tempo, esperava por seu olhar, descontraído, interessado, envolvente. Balançar em rede, deitar no chão, andar de bermuda e atender a porta de chinelo e com a cara de quem acabou de levantar-se. Visitar amigos, marcar encontros e relembrar infância, atitudes e ações, umas boas, outras não tão boas, mas aprendidas. Sentir saudades, recordar nomes e perceber que o coração voltou a ficar bobo, sorrindo. Gargalhar sem preconceitos e sem maldade, apenas pelo prazer do riso, da alegria contagiante.
Fazer planos aventureiros. Querer repetir o momento na mesma data no próximo ano, com todo mundo, sem faltar ninguém. Trocar telefones, anotar contatos, deixar endereços, bilhetinhos. Guardar palito, tampa de garrafa, guardanapo ou mesmo a conta só para lembrar que aquele dia, aquele momento existiu e que você fez parte dele, ajudou a construí-lo. Perceber que está mais do que vivo, está vivendo intensamente o tempo e a amizade, a conversa e a brisa; afinal, está de férias.
Olhar para o céu e namorar a lua. Contar estrelas e ficar esperando que uma estrela cadente caia. Esnobar o seu conhecimento sobre astronomia e apontar as constelações. Parar, pensar por um momento e lembrar que na infância você tinha uma estrela. Sentir orgulho, saudades, lembranças e apontar para todos “a sua estrela”.
Passear de carro. Curtir praia. Pernoitar na fazenda, beber leite em curral, andar a cavalo. Ouvir os pássaros e contar “causos” de assombração. Sentir cheiro de terra, de mato, de natureza, de infância. Cozinhar em fogo a lenha. Comer bolão de fubá e arroz doce. Sentar na varanda com os amigos e sentir a vida na corda de um violão, de uma cantoria, de boas risadas e muita conversa boba, alegre, sem pretensão, descontraída, no ritmo das férias.
Passar o tempo e ver o tempo passar.
Antonio Trotta – Jornalista, escritor e poeta
Foto: Freepick
A cara das melhores férias estão aí descritas.
Parabéns!
Mandou bem demais!!!! Férias é tudo isso e muito mais… é flutuar, viver sem limitar…é o momento de eternizar.