Hollywood (2020) fala da indústria do cinema no pós-guerra, entrelaçando as vidas de algumas das peças que compõem suas engrenagens. Na primeira cena, Jack Castello, jovem aspirante a ator, assiste entusiasmado no jornal da tela uma promessa: a rica e glamorosa vida daqueles que aparecem nos créditos. Mas, a oportunidade que lhe é oferecida é o Golden Tip, posto de gasolina onde belos frentistas aguardam a senha “quero ir para Dreamland” e partem para um programa adulto.
Atendo-se ao literal, quem não quer ir à Terra dos Sonhos? Levar até lá, sempre foi a função primordial de Hollywood. Pena que a série se propôs a construir uma Hollywood dos Sonhos (indo além da segunda chance que Tarantino deu a Sharon Tate, em “Era uma vez em Hollywood”), sendo condescendente com todas as mazelas que a mídia traz sobre a indústria cinematográfica, sua política, seus preconceitos e seus acordos sórdidos.
A narrativa tem um início mais realista, apresentando ou se referindo a personagens reais, como o detestável agente Henry Willson, que, de fato, assediava seus contratados, e teve um longo relacionamento com Rock Hudson. Anna May Wong conta sua história real, assim como é real o episódio vivido por Hattie McDaniel ao receber o primeiro Oscar entregue a uma atriz negra. Peg Entwistle, de fato, saltou da letra H, e o Golden Tip existiu, sim, com outro nome e outro endereço.
Porém, a narrativa vai se desvinculando da realidade e adotando a ingenuidade. Histórias se tornam açucaradas; personagens adquirem, de uma hora para a outra, não só talento, mas também uma imprevista consciência crítica. De uma vez, são saneados todos os males que caracterizam a indústria cinematográfica até hoje: preconceito, comércio sexual, etc. Trocando o que foi pelo que deveria ter sido, personagens na década de 40 militam em trincheiras do século XXI.
Mas, Hollywood fabrica sonhos, e como em muitos outros cenários da vida, sonhos são oferecidos; compra quem quer. Ou, quem precisa.
@drederschmidtpsiq