Cultura e Lazer

ACADEMIA CAXAMBUENSE DE LETRAS

Fabia Vittiello de Azevedo

A coluna de hoje é com: Fabia Vittiello de Azevedo é professora de redação – escrita criativa e redação para concursos e ENEM – há 27 anos.

Tem sete livros publicados e, há um ano, abriu sua própria editora, a Drops Editora. É tradutora profissional. Traduziu mais de duzentos livros para editoras como Globo, Planeta, Fundamento, Harper Collins, Gente, Casa da Palavras, Ediouro, Prumo e Rocco.

Também atua como preparadora de originais, copidesque, revisora, parecerista e tradutora técnica.Escreve e produz o Drops da Fal há 17 anos.

Livros: o nome da cousa: sonhei que a neve fervia e mais. / Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite; todo mundo adora saturno./ Crônicas de quase amor.

 

 

“Quase todas as noites, o dono do Paçoca sobe a rua gritando “Paçoca! Paçoca!”. Várias vezes por semana ele solta o Paçoca da trela lá no começo da ladeira, confiando que, dessa vez, o Paçoca vai andar alguns passos à frente dele, bem calminho e civilizado. “Alguma cousa aconteceu hoje”, pensa o dono do Paçoca, “e hoje o Paçoquita vai ser bonzinho e se comportar”.

O dono do Paçoca é criminosamente néscio. Um sem-número de noites, toda semana, o porra-louca do Paçoca desembesta pela rua Palmares acima, babando, desesperado, rumando que nem uma bala, com suas longas pernocas de viralatão laranja, na direção da nem tão movimentada, mas muito perigosa, rua Joaquim Nabuco.

Eu ia usar a doideira do Paçoca, a burrice do pai dele e a assustadora rua Joaquim Nabuco como uma longa e sofrida metáfora para mim, minha situação, meu afeto que desemboca – sem fôlego e com dor aqui do lado depois de subir correndo a ladeira – num futuro incerto.

Ia, então, desafiar a paciência alheia dizendo que eu sou o dono do Paçoca, crente no porvir e tonto demais, que meu amor por você é o Paçoquinha, inconsequente e doidão e que a rua Joaquim Nabuco é a rua Joaquim Nabuco, mas, né? Ainda é quarta-feira, São Paulo arde num calor quase ilegal, faltam 743 dias para agosto acabar e eu mesma não enxergo lá muito bem.”

Academia Caxambuense de Letras – Agosto de 2021

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