ACADEMIA CAXAMBUENSE DE LETRASCultura e Lazer

ACADEMIA CAXAMBUENSE DE LETRAS

Maria do Carmo Lahmann

A coluna de hoje é com: Maria do Carmo Lahmann

A árvore ficou dentro do vento.
Seu flanco verte folhas,
O crepúsculo cinzento
fez uma curva
comprida e tensa.

***

No buraco de bambu
passa o sol,
passa o vento,
passa a brisa,
a música,
o canto,
o grito,
o inseto,
a fala,
o sopro,
o gemido,
o choro,
a risada,
a alma.
Ele é o oco
escapando
dos sois lados.
De um lado
um desejo,
do outro,
o vácuo.


***

Na cuia escura da noite
o cavalo trota
célere
morro acima.

***

Esses ventos inquietos
como virgens a sonhar
são cirandas sob os céus.
Tenho janelinhas nos olhos
por onde entram o céu azul,
o bem querer dos que me amam
e os mistérios não compreendidos.

***

Pudesse eu pintar em tela
um único instante do tempo
veria o efêmero, o irreal
desmanchando-se em cores.

***

Garoa, palavra bonita!
A chuva se esfacelando em
migalhas,
O sol domesticado atrás das nuvens.

***

Há uma terna suavidade
nas coisas que crescem,
nos corrupios dos pássaros.
Nasci com respeito
e admiração.
Namoro as pequenas coisas,
as pequenas existências,
as efêmeras aparências.
Tenho o lirismo
dos bobos e poetas.
Sou vítima da comoção
por inocentes criaturas
é meu destino seguir
meu velho pai
que já morreu.

 

 

Academia Caxambuense de Letras – abril de 2022

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