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Por: Aquiles Rique Reis - vocalista do MPB4

Bicho carpinteiro

Sempre em busca de confundir, mais do que explicar, dessa vez Carlos Careqa exacerbou os limites da criatividade. Subvertendo entendimentos composicionais, tratou de nomear o seu novo álbum de 60 mini songs (Barbearia Espiritual). Sim, 60 mini songs!

Bem, ele, que raramente se dá ao desfrute de elucidar suas intenções, dessa vez e até deu uma colher de chá. Vou aproveitar… Assim escreveu Careqa no release:

A fugacidade das canções!

Temos 30 segundos, 45 segundos, 1 minuto no máximo para expressar uma ideia no mundo virtual que nos abrange todos os dias. Quis abordar este tema neste trabalho. 60 minicanções onde sem muita enrolação mostro ao que veio a ideia da canção.

Um trabalho desenvolvido durante a pandemia de coronavírus 2020/2021.

Um trabalho que não tem nenhuma referência a pandemia, política ou amor romântico. Pensar, compor e cantar.Trabalho este desenvolvido com Marcio Nigro, que dividiu os arranjos, samples e ideias. Marcio Nigro gravou, mixou e masterizou este trabalho. Somos assim. Poucos e muitos. Uma canção para cada ano vivido.

Carlos Careqa.

Como viram, mais uma vez a música de Careqa tem em Nigro o seu chão. (Nigro toca guitarra, violão, viola caipira, guitarra, baixo, teclado e samples; Carlos Careqa voz, violão e samples. Com instrumentos convencionais patentearam a música que tocam.) Levadas vão e vêm; letras dizem algo e você pensa que sacou, logo ele diz outra e você não pesca patavina. Carlos Careqa, o eterno garimpeiro de intenções musicais, músico cientista a misturar poções mágicas e bebê-las em seu mundo de faz-de-conta.

Se minha vó Edith fosse viva, diria: “Esse Careqa parece que tem ‘bicho carpinteiro’”. Matou a pau, vovó! Sabe o que eu pensei, Dona Edith? A sequência das 60 mini songs são como HQ: você pode pular de um quadrinho pro outro, às vezes mais ligado nos desenhos do que nos textos, e a historia segue lá, firme! Mas diferente.

Ou quem sabe, vovó, um caleidoscópio onde entrelaçam-se as palavras. Quanto mais o cilindro gira, mais frases se misturam, ganhando sentidos universais. Olhando pelo olho do brinquedo, os desenhos revelam termos icônicos. Agora, meu camarada, chacoalhe-o e veja que tudo mudou sem sair do lugar.

Siga girando e ouvindo as songs como Careqa as apresentou. Cada uma tem o valor musical aferido pelo “bicho carpinteiro”. Num gesto, digamos, de pirraça, ouça as 60 minis aleatoriamente. E busque significados seus onde Careqa produziu os dele. Enquanto o seu mundo pop preenche a cabeça do ouvinte, as 60 mini songs fazem total sentido na cabeça irrequieta de Careqa.

Encerro esta passagem pela concepção minimalista de Careqa e Nigro com mais um comentário, que, dentre outros, transcrevi neste texto que trata do trabalho de um eterno esquadrinhador; de um irrequieto e alucinado desarrumador de convenções; e de um sábio e convicto profanador de ações que produzem as suas ideias.

Carlos Careqa é mais do que isso e, a tudo isso, ele procura. Simples assim.

 

Sobre o Colunista: 

Aquiles Rique Reis, niteroiense, logo se dispôs à vida. No MPB4 desde 1965, foi como se tivesse nascido para sempre cantar e muito sentir as dores do mundo, que são também suas. Hoje, ele canta, e há quinze escreve sobre música, com isso se encontra e vive. 

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